Texto de pesquisadoras do NEIM/UFBA
19/08/2020 hoje, milhares de docentes e técnicos/as administrativas da Universidade Federal da Bahia, completam 26 semanas de trabalho remoto. Se fosse uma gravidez, dificilmente teríamos autorização legal para realizar o aborto. Mesmo que essa “gravidez” tenha sido produzida, em grande parte, como consequência de uma violência extrema. Um verdadeiro estupro a nossa democracia.
Essa violência extrema, vem se consolidando fortemente desde a posse desse (des) governo. Na verdade, os abusos já vem ocorrendo há 4 anos. Assim como no caso da menina do Espírito Santo. Simbólica essa analogia não? “A menina do Espírito Santo” que não teve a solidariedade e a compaixão de pessoas que defendem esse mesmo “Espírito Santo”.
Nossa democracia, como todas as mulheres, sempre sofreu abusos. Entretanto, os mais recentes, se intensificaram a partir de 2016 com o golpe que derrubou uma presidenta eleita pela população. Esse golpe, cuja principal justificativa legal foi extremamente frágil – as ditas “pedaladas fiscais” – que, tanto antes do golpe quanto logo após a sua confirmação, foram consideradas como atos governamentais aceitáveis.
Mas mesmo assim, considerando interpretações da lei, não poderemos abortar essa gravidez de risco que tem adoecido nossos corpos e mentes.
Aos argumentos de cunho religioso, de pessoas que nos dizem que são os desígnios de Deus (certamente um Deus masculino, branco, cisgênero e de classe social privilegiada) e que devemos aceitar e olhar sempre o lado bom, respondemos: - Sim, tentamos olhar o lado bom. Mas isso não nos faz esquecer da violência que nos colocou nessa situação. Não podemos simplesmente perdoar os/as agressores/as. Até porque, as agressões continuam.
A mais nova manifestação dessas agressões se expressou no recém anunciado corte de 18% no orçamento das universidades para 2021.
A impossibilidade do aborto nos obrigará a conviver para sempre com o/os frutos desse estupro. Não temos sequer a “opção” de entregar para adoção.
Esse texto, produzido nesse aniversário macabro, tem a intenção de compartilhar reflexões, mas também de convocar para a luta.
Assim como o movimento de mulheres, personificado nas feministas pernambucanas e também na Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras, garantiu à menina o seu direito ao aborto seguro, precisamos garantir um “aborto” seguro desse feto indesejado que estamos gestando contra a nossa vontade.
Lutemos pelo nosso direito ao aborto seguro!
Pelo direito à liberdade do nosso corpo (docente, técnico e discente)!
A UFBA somos nós e nossos corpos!