A branquitude musical é perversa. Mais ainda por ser um tanto inusitada, afinal, ter a arte como ofício deveria pressupor um tanto de sensibilidade. Infelizmente essa não é a realidade e o racismo estrutural dá chance para uma pessoa se sentir autorizada a ignorar não somente regras do edital do concurso ao qual prestou, como toda uma jornada de conquistas políticas que são as ações afirmativas e a política de cotas. Mas essa pessoa só se sente autorizada por que existe um sistema que a favorece, seguindo a mesma lógica de ignorar direitos e conquistas políticas para manter os seus próprios privilégios.
Esse é um sistema de direito injusto, que historicamente favorece somente os seus e anda de costas para os movimentos sociais e toda um histórico de luta das minorias subalternizadas. Mas estamos atentes e fortes. A humanidade e, consequentemente, a universidade vem se transformando cada vez mais. Por mais que o racismo e o sexismo ainda insistam em gritar clamando pelo que considera “seu” de “direito”, ou seja, seus históricos privilégios, não adianta, é irreversível.
A UFBA, as maiores associações brasileiras musicais e a imprensa já se posicionaram e seguem estarrecidos com a tentativa de invalidação da legitimidade da política de cotas para concurso público, ao cancelar a vaga da Profa e cantora lírica Irma Ferreira.
Por fim, nós do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher – NEIM, com seus mais 40 anos de luta pelos direitos das mulheres e pela luta antirracista e LGTTQIAPN+, dentre outras importantes frentes, como a questão de classe e geracional, nos solidarizamos com a Profa, cantora lírica e doutoranda Irma Ferreira e igualmente expressamos nosso repúdio ao poder público que ainda segue pautado na perversa articulação do racismo e do seximo estrutural e institucional, ignorando a autonomia universitária.
Falamos desde um lugar histórico da militância feminista, política, acadêmica e, mais recente cultural e artística, a partir da criação, em 2006, do Programa de Pós-graduação em estudos sobre mulheres, gênero e feminismos (primeiro doutorado da América Latina na área) e Bacharelado em Gênero e Diversidade, em 2009, na UFBA, com reconhecida produção e ativismo em âmbitos nacional e internacional. Alertamos para as diferenças e desigualdades entre nós, mulheres, clamando por uma nova consciência que seja cada vez mais interseccional.