O Neim/UFBA (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher) vem à público manifestar sua indignação, tristeza, repúdio e profundo pesar diante dos assassinatos de Marielle Franco e de Anderson Gomes. As mortes,execuções premeditadas, ocorreram na última quarta-feira (14/03) e nos faltam palavras para descrever tamanha brutalidade. Como nos despedirmos dessa mulher negra, feminista, bissexual, vinda da comunidade da Maré, de esquerda socialista, que lutava cotidianamente em defesa da população favelada e acreditava em um mundo livre de desigualdades? Uma mulher que ousou ocupar um espaço na política institucional, tão pouco afeito à presença de pessoas que não sejam brancas, heterossexuais, homens e cisgêneros, para pautar os direitos humanos.
A morte de Marielle entra nas estatísticas da guerra contra os pobres que leva ao genocídio da população negra. Há quatro anos, nessa mesma semana e também no Rio de Janeiro, Claudia Silva Ferreira foi baleada e morta ao ser arrastada por um carro da Polícia Militar. Um levantamento feito em novembro de 2017 pelas Nações Unidas demonstrou que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. E tudo isso acontece em um contexto de intervenção militar federal, cuja tendência é ampliar ainda mais essa violência – Marielle se posicionou veementemente contra a medida e era relatora da comissão que fiscalizaria a ação.
Ao mesmo tempo, esse assassinato é um crime contra a democracia. Vereadora do PSOL eleita com 46.502 mil votos na segunda maior cidade do Brasil, Marielle tinha uma carreira política promissora e estava em rápida ascensão. Num Rio de Janeiro que tem sido o laboratório do que há de pior no golpe parlamentar-jurídico-midiático, sua voz, potente, ecoava em defesa dos subalternizados e dos excluídos. Em tempos de fascistização social, sua presença física impactava o parlamento dessa tão incompleta, frágil e agora suspensa democracia. Era uma ferida aberta e insistente para que os de baixo não fossem esquecidos.
Marielle Franco, em seu pronunciamento no 8 de Março desse ano, havia citado a escritora estadunidense, negra e lésbica Audre Lorde: “Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”. Nós não descansaremos, Marielle. Sua memória, força e inspiração permanecem. Seguiremos em luta até que todas sejamos livres.