Hoje, 5 de dezembro de 2021, ficará marcado para todas e todos nós, do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher – NEIM/UFBA, como um dos mais difíceis e dolorosos dias deste já difícil e impensável ano! Perdemos hoje ANTÔNIA DOS SANTOS GARCIA, nossa companheira de muitas lutas, pesquisadora associada ao nosso núcleo e um exemplo de superação, coragem e dedicação à construção da justiça social em nosso país!
Nascida em Cachoeira, em 13 de junho de 1948 (dia de Santo Antônio), Antônia iniciou sua militância aos 12 anos como professora leiga e, depois, participou da Juventude Agraria Católica – a JAC, trabalhando, em tempo, como parteira em comunidades rurais. No início dos anos 1970, veio para Salvador, fixando residência no Subúrbio Ferroviário de Plataforma, onde desenvolveu um intenso trabalho comunitário nessa antiga vila operária, liderando o movimento de mulheres local, com a criação da Associação de Mulheres de Plataforma – depois ampliada para Associação de Moradores de Plataforma, a AMPLA – e despontando como liderança comunitária também na Federação das Associações de Bairros de Salvador, a FABS.
Suas lutas nos bairros levaram-na a uma atuação político-partidária. Antônia foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, na Bahia, tornando-se Secretária das Mulheres de Salvador e destacando-se como primeira mulher negra a ocupar a presidência do partido, também em Salvador. Ainda pelo Partido dos Trabalhadores, candidatou-se à Câmara de Vereadores de Salvador e, posteriormente, à Assembleia Legislativa da Bahia, não chegando a eleger-se, mas, concorrendo, por certo, com um dos mais pertinentes slogans de campanha: “Antônia Garcia, mulher de raça!” Destacou-se, também, como Secretária da Reparação Racial do Município, integrando, ainda a Executiva do Conselho Municipal da Mulher de Salvador e o Conselho Estadual da Mulher da Bahia, participando, ativamente, na organização das Conferências de Mulheres, tanto municipais quanto nas Estaduais.
O NEIM foi parceiro da AMPLA, sob a liderança de Antônia, no desenvolvimento do Projeto de Criação do Centro da Mulher Suburbana, que teve o apoio da Fundação Ford e resultou, dentre outras ações, na publicação do livro, “Creche Comunitária – Uma alternativa Popular” (1991), organizado por Ana Alice Costa. Uma longa parceria se desenvolveu então entre a equipe do NEIM e Antônia, culminando com sua entrada definitiva no nosso núcleo como pesquisadora associada, tendo ela também desenvolvido estágio pós-doutoral no PPGNEIM/UFBA, ministrando disciplinas e orientando trabalhos de conclusão de curso.
Antônia obteve o Bacharelado em Ciências Sociais e o Mestrado em Geografia na UFBA, concluindo seu doutoramento no IUPERJ, Rio de Janeiro, com uma tese sobre a questão urbana. Nunca, porém, deixou de atuar como militante comprometida com os movimentos sociais, destacando-se por sua ética em todas as atuações e por sua coerência política e acadêmica. Era quem nos guiava nas análises de conjuntura em nossas reuniões, quem nos elucidava no planejamento de nossas ações, sobretudo em relação aos movimentos sociais em Salvador.
De fato, perderam hoje, junto a nós, os movimentos de mulheres, o movimento negro, os movimentos de bairros de Salvador, o Partido dos Trabalhadores e a esquerda brasileira, como um todo, essa nossa batalhadora das mais atuantes, das mais dedicadas e das mais lúcidas, cuja ausência se fará sentir por todas e todos nós que a tínhamos como amiga, parceira e companheira – ainda mais neste momento quando temos pela frente grandes batalhas pela reconquista e reconstrução do nosso Brasil!
Ficam aqui os nossos mais profundos sentimentos para com seus familiares, seu companheiro Agenor, seus filhos, os netos lindos dos quais ela tanto se orgulhava.
Antônia – a Tonha – continuará a ser uma voz sempre presente entre nós!!!